Qual é a importância do Perdão?

O perdão é mais que uma virtude, é um ato de desprendimento e de libertação para a nossa alma em relação à outra. Podemos dizer que ele antecede a virtude e antecede qualquer forma de prática e evolução dentro do caminho cristão, visto que o ressentimento e a mágoa em nosso íntimo nos impedem de serguirmos em frente: "Portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus" (Mateus 5:23-24).
Antes desse trecho do livro de Mateus, mas no mesmo capítulo, Jesus iguala o homicídio com qualquer desavença contra um irmão. Óbvio que o ato de matar é horrível e tem uma grande diferença em relação à uma mera desavença, mas Jesus os iguala porque ambos produzem efeitos nocivos ao coração, ambos causam pesar e recentimentos. Tais pecados possuem um valor social diferente, mas são iguais no que causam em nossa alma.
Perdoar é um ato de purificação, assim como pedir perdão a alguém e sempre pedir perdão a Deus antes de qualquer prática espiritual. O Kyrie Eleison entoado nos ritos iniciais da santa missa e em práticas individuais é uma antiquíssima fórmula de preparação para receber a graça do Altíssimo. Só com a consciência limpa podemos nos concentrar no que importa e nos aproximar de Deus.

Essa temática em nossa sociedade atual é debatida com dificuldade diante dos conceitos de penalidade no qual nos orgulhamos muito. Para muitos, "bandido bom é bandido morto, tem que torturar sem piedade, tomara que sofra na cadeia". Primeiramente é bom lembrarmos que Jesus e muitos santos sofreram punições semelhantes e injustas, e que, ainda hoje, o sistema penal é muito falho em muitos aspectos. Vivemos em sociedade, portanto uma punição relativa ao crime é necessária e deve ser aplicada, mas nossa concepção humanitária evoluiu o bastante para entendermos que tortura e execução não são a resposta (infelizmente alguns pseudo-cristãos ainda não entenderam isso). Óbvio que a punição é importante, contudo, não precisamos defender uma vingança sádica para reconhecer a importância de condenar um criminoso. Um verdadeiro cristão não deixa seus impulsos puramente emocionais tomarem conta de sua razão.
Em segundo lugar, ninguém nasce criminoso, se torna criminoso, criminalidade é um problema mais social do que individual, portanto o conceito de impiedade é infundável, e o conceito de cidadão de bem é tão retrógrado quanto os fariseus. Sendo assim, não podemos cultivar ódio gratuito, não podemos esperar o pior de um criminoso que já está sofrendo a sua pena, mas sim esperar a sua melhora, esperar que ele reconheça seu erro e que tenha uma chance de recomeçar. Essa chance só se consegue com o perdão. Perdoando, temos a chance de salvar uma alma, a chance de reencontrar o filho pródigo, a ovelha perdida. Não se trata de "adotar um bandido", mas sim de dar uma segunda chance, de fazê-lo se redimir, de instruí-lo sem deixar de reconhecer a importância de sua prisão momentânea. Aliás, visitar os condenados nas prisões era uma prática constante nos primórdios do cristianismo, seja porque muitos condenados eram prisioneiros políticos ou porque o Evangelho deveria ser pregado para quem mais estivesse perdido.

Podemos enfim definir o perdão como uma prática constante de aprimoramento de nós mesmos enquanto indivíduos e de nossa relação com o mundo que nos rodeia, assim como dar o melhor exemplo para aqueles que nos desejam o pior. Quando o Papa João Paulo II perdoou o homem que lhe deu um tiro, ele se mostrou superior ao atirador e evitou o que poderia ser uma eterna desavença. Quando os mártires cristãos (incluíndo nosso mártir maior Jesus Cristo) perdoavam os seus algozes, mostravam que apenas um lado alimenta o ódio, apenas um lado é desprovido de virtude, apenas um lado é violento. Provavelmente se os cristãos do passado respondessem com a mesma moeda de seus opositores, dariam mais motivos para serem difamados e a doutrina de Cristo talvez não tivesse sobrevivido até hoje. Enfim, só podemos encontrar a paz, caminho fértil para as virtudes, com o perdão.

Para concluir, deixamos aqui os seguintes ensinamento de Jesus sobre o perdão:

"Respondeu Jesus: Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes." (Mateus 18:22)

"Tenham cuidado! Se o seu irmão pecar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoe. Se pecar contra você sete vezes num dia e cada vez vier e disser: “Me arrependo”, então perdoe." (Lucas 17:3-4)

"Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam." (Mateus 6:12)

"Então Jesus disse: Pai, perdoa esta gente! Eles não sabem o que estão fazendo." (Lucas 23:34)

Como fazer a Oração Carmelita?

A oração carmelita, ou método teresiano de oração (referente à Santa Teresa D'Ávila), é uma prática estreitamente vinculada ao misticismo cristão na Via Cardíaca, pois vivifica a prática da oração não com excesso de palavras ou gestos elaborados, mas com o aprofundamento de nosso coração. Este método possui muita semelhança com a Lectio Divina, sendo uma versão mais avançada desta.
De fato Santa Teresa D'Ávila praticava este exercício espiritual constantemente, prezando o íntimo diálogo com Deus, diálogo este que vem do mais profundo de nossa alma. Para isso, é necessário despertar nossos sentidos para Deus através dos passos deste exercício.

"Vocês pensam que Deus não fala, porque não se ouve a Sua voz? Quando é o coração que reza, Ele responde." – Santa Teresa D'Ávila

1- Preparação

Antes de tudo, devemos nos preparar, evitar tudo o que pode nos desconcentrar e criar um ambiente favorável para a meditação. O outro passo da preparação consiste em procurar uma posição favorável e nos desligar de todos os maus pensamentos, deixando a alma aberta para a ação de Deus em nós.

2- Colocar-se na presença de Deus

Invocar Deus, pedindo o seu perdão divino, confessando nossas faltas e pedindo para que nos ilumine nesta meditação, dirigindo a Ele bons pensamentos e entrando com sintonia com Ele. Antes de qualquer prática espiritual devemos pedir perdão com sinceridade, só assim estaremos de coração puro e preparados para receber a luz divina.

3- Leitura

Para prosseguir, é necessário dar continuidade à uma leitura, que pode ser dos Evangelhos ou de qualquer livro de valor espiritual, como alguma obra carmelita. Devemos ler atentamente um capítulo ou uma parte, reler, se for preciso. A leitura, sobretudo dos Evangelhos, auxilia na meditação e na concentração na figura de Cristo.

4- Meditação

Depois de ler, devemos refletir nas palavras que lemos, aprofundarmos no valor dessas palavras. A leitura nos fornece uma alegoria, um arquétipo que deve adentrar nossos pensamentos e penetrar em nossa alma. Fechemos nossos olhos, assim, pensamos e sentimos o que nos foi instruído. Deixemos o pensamento livre para abrir nossos sentidos e nos guiar para Cristo.

5- Conversa com Deus

Esta é a parte que Santa Teresa tanto praticava. Consiste em um diálogo íntimo entre nós, no mais puro de nossa alma, e Deus. Assim, entregamos todos os nossos sentimentos, nossas esperanças, nossos desejos, nossos receios e tudo o que passa em nosso coração. Não devemos ter pressa, mas sim aproveitar cada momento diante de Deus, contemplando sua grandeza, a fonte de onde tudo é emanado.

6- Agradecer a Deus

Agradecer a Deus pela oportunidade de meditar e de estar em sua presença divina, usando nossas próprias palavras ou orações conhecidas, ou ambas. Após o término, devemos zelar para que este exercício dê resultado, nos lembrando sempre das promessas que fizemos a Deus e nos tornando mais humildes, serenos e pacientes. Não praticamos a fé por mero capricho, mas sim para nos aproximar de Deus e para causar uma grande mudança em nós mesmos.

O que é a Egrégora Cristã?

Egrégora é uma força espiritual criada através da vontade de um grupo de pessoas. Quando duas ou mais pessoas se unem em favor de um objetivo, e faz disso uma prática rítmica e constante, então uma poderosa energia surge da união mental e emocional dessas pessoas. Por isso existe o costume de dar as mãos formando um círculo durante orações coletivas, conectando cada integrante do grupo à energia da oração, formando uma só mente orante.
Cada pessoa, em seus grupos de valor espiritual, estão dentro de determinada egrégora. Todo cristão, sendo verdadeiramente cristão, faz parte do Corpo Místico de Cristo, que é denominado a grande egrégora cristã, independente de igreja, independente de instituição ou jurisdição, formado pelos irmãos ainda vivos (Igreja Militante) e também pelos irmãos que já se foram (Igreja Triunfante), auxiliando-nos constantemente e fortalecendo essa poderosa egrégora.

"Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles." (Mateus 18:20).

Toda egrégora é uma força viva, e, como tal, deve ser constantemente alimentada. Religiões antigas e até atuais fazem uso de oferendas e sacrifícios, ofertando requintes às divindades nos quais se devotam. Na tradição cristã se faz uso de orações constantes, devoção, veneração e ritos específicos. Todo domingo o pão e o vinho são consagrados e distribuídos aos fiéis, que, dentre os tantos significados da Eucaristia, faz habitar em cada fiel o Cristo Vivo, um só Cristo para milhões de cristãos. Cristãos esses que formam o Corpo Místico, sendo a Eucaristia o rito mais importante do cristianismo
A Eucaristia também é vista, em algumas teologias, como uma oferenda, a recriação do sacrifício perfeito de Jesus no altar. Nisso não iremos negar, contudo a melhor oferenda para Cristo é alimentar os famintos, dar ao humilde o que ele precisa, pois, como Jesus disse: "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram." (Mateus 25:40).

Uma egrégora forte e grande é como um castelo, contendo inúmeros blocos de pedra que, embora pequenos, sustentam o castelo e fazem parte dele. Quando unimos nossos esforços para rezar o terço, ajudar os necessitados, meditar, estudar os evangelhos, e fazer disso uma prática constante, estamos assim alimentando nossa egrégora e também gerando uma nova força coletiva dentro dessa grande egrégora.
Do Corpo Místico de Cristo, quantas igrejas existem? Quantas ordens monásticas existem? Quantos grupos de oração são criados? Quantos movimentos sociais? A quantos santos são devotados? São estas as pedras que formam o castelo e todas as suas moradas, são egrégoras dentro de egrégoras!

Toda egrégora deve possuir um objetivo. Cristo, em sua vida terrena, nos apresentou ensinamentos valiosos e instituiu práticas que foram continuadas por seus discípulos. Afinal, ser cristão não se resume a imaginar o semblante de Cristo e adorar esse semblante, como fazem todas as outras religiões com seus deuses. Caso contrário, o cristianismo em nada diferiria das outras religiões.
Ser cristão é se submeter ao caminho de uma transformação interior, de sentir Cristo em seu interior e ver Cristo no próximo e no trato para com o próximo. Um cristão que meramente se devota para uma criação mental da face de Cristo encarnado e resume sua fé de forma mecânica e voltada para essa imagem que criou em sua mente, sem nunca trabalhar o seu interior e nem procurar as virtudes, este não passa de um falso cristão. Ora, se Cristo quisesse inflar seu ego numa adoração sem fundamento e deixar que as pessoas continuem com seus preconceitos e hipocrisias, assim como faziam os fariseus, jamais seria condenado pelos mesmos fariseus. Como pertencentes ao Corpo Místico de Cristo, devemos nos focar em ter a mente e o coração voltados à vontade de Cristo.

No campo espiritual, a egrégora continua atuante e forte. Muitos monges do passado afirmavam convictamente que seus hábitos eram verdadeiras armaduras, como numa guerra, mas uma guerra espiritual. A soma de maus pensamentos e más ações também desencadeiam uma egrégora, uma egrégora negativa que se alimenta do vício, do rancor, das mágoas, da violência, da indiferença. Essas forças lutam contra as forças de luz e tentam seduzir almas para seus atos diabólicos. Na egrégora cristã muitos santos (não só os conhecidos pela hagiologia) combatem essas forças invisíveis. Quando honramos um santo, estamos contribuindo para que suas forças derrotem o inimigo, mas seria em vão se o fiel não se retratasse e não passasse a seguir o caminho das virtudes.
Uma pessoa que comunga e convive entre cristãos mas é adepta dos pecados, faz discurso de ódio, fecha os olhos para as injustiças, destila preconceitos, incita punitivismo, alimenta o ego e desconta o estresse em seus irmãos, esta pessoa nunca será um verdadeiro cristão, mas sim um infiltrado das forças malignas dentro da igreja.

Cada um de nós é um elo dentro dessa vasta egrégora. Um elo fraco enfraquece a egrégora. Não deixemos ser um canal para que as forças malignas penetrem em nosso meio, devemos, pois, nos lapidarmos constantemente. Que sejamos justos, moderados, firmes e prudentes, a fim de crescer em nós a força espiritual que sustentamos, o Verbo de Deus como uma fagulha de luz em nós, e que, juntando nossas fagulhas, formemos uma grande fogueira que nunca se apagará.

Como rezar a Coroa Franciscana?

Também chamado de Coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora ou Rosário Franciscano, foi criado pelos franciscanos no século XV, como um método de contemplação de sete momentos da vida da Virgem Maria. Sua forma é semelhante ao do terço, porém as dezenas são em número de sete.
Sua temática faz contraste com a devoção das Sete Dores de Nossa Senhora, porém, as Sete Dores são rezados em sete conjuntos de sete, enquanto as Sete Alegrias são rezadas em sete conjuntos de dez.

É sempre válido comprar ou confeccionar um rosário especial com sete dezenas, a fim de melhor praticar esta devoção. A seguir será mostrado passo a passo de como rezar:

Segurando a Cruz: Recitar o Credo dos Apóstolos.

Primeira conta depois da Cruz: Rezar o Pai Nosso.

As três contas depois: Rezar um Ave Maria para cada um dos seus três aspectos (Filha do Criador, Mãe do Salvador e Cônjuge do Santificador).

1ª Alegria: Maria recebe o anúncio do arcanjo Gabriel. (Lucas 1:26-38)
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

2ª Alegria: Maria visita sua prima, Isabel. (Lucas 1:39-56)
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

3ª Alegria: Maria dá a luz ao seu filho, Jesus. (Lucas 2:1-20)
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

4ª Alegria: Maria se felicita com a adoração dos Reis Magos ao seu filho. (Mateus 2:11)
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

5ª Alegria: Maria encontra Jesus no Templo. (Lucas 2:42-51) 
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

6ª Alegria: Maria contempla Jesus ressuscitado. (Marcos 16:1-13)
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

7ª Alegria: Maria é ascensionada aos céus e coroada.
1 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória

Oração final: "Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum dos que recorreram à vossa proteção, imploraram a vossa assistência e clamaram por vosso socorro tenha sido por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como à Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos vossos pés. Não rejeiteis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia, e de me alcançar o que vos rogo. Amém."

Como rezar o Rosário Anglicano?

O Rosário Anglicano foi criado pelos anglicanos dos EUA na década de 80, como uma forma de meditação para o estudo da Bíblia, mas acabou se popularizando por todo o anglicanismo.
Este rosário não é um sacramental, mas apenas um objeto de meditação que pode ter suas orações variadas e formuladas pelo orante se assim desejar, mas sua forma é muito simbólica.
O rosário anglicano, em seu círculo, apresenta uma forma de cruz, tendo quatro contas grandes (chamadas de cruciformes) formando uma cruz e sete contas pequenas no intervalo de cada cruz. Quatro são os braços da Cruz de Cristo, quatro simboliza os quatro evangelhos, os quatro elementos e as quatro virtudes cardeais. Quatro também é o número se semanas que formam um mês completo.
O conjunto de cada sete contas pequenas se chama semanas (porque são sete), as quatro semanas formam um mês ou uma fase lunar. Sete é um número extremamente simbólico, aparecendo diversas vezes na Bíblia. Simboliza os sete Espíritos de Deus, as sete virtudes celestiais, sete dons do Espírito Santo, etc.
Além disso, ainda tem uma conta antes da Cruz, chamada de conta invitatória. No total são 33 contas, número de anos que Jesus viveu materialmente entre nós. Não é preciso, contudo, se limitar à quantidade de contas, podendo recomeçar o rosário por mais vezes a partir da última cruciforme conforme estiver inspirado. Ao finalizar, basta alcançar a conta invitatória novamente para recitá-la.

Há diversas formas de orar com o rosário anglicano, que pode ser adaptado sempre. Aqui mostraremos uma forma:

1- Segurando a Cruz: Pai Nosso.

2- Conta invitatória: "Senhor, tende piedade de mim; Cristo, tende piedade de mim; Senhor, tende piedade de mim."

3- Contas cruciformes: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém"

4- Semanas: Jesus, "manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso."

2- Conta invitatória para terminar: "Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém."

Conheça AQUI uma outra forma de se meditar este rosário

A Medalha de São Bento

Bento da Nórcia (480-547) é considerado o pai da regra monástica, sendo o primeiro a redigir uma regra de forte disciplina monástica em meio ao caos do declínio do Império Romano do Ocidente. Seu legado é a Ordem Beneditina, que influenciou diversas outras ordens e passou por sucessivas modificações ao passo de que não se seguia devidamente as duras regras de São Bento nem nos mosteiros que estavam sob sua regra. A Regra Beneditina exige uma severa disciplina que poucos são capazes de prosseguir, mas é importante lembrar que ninguém nasce perfeito, tudo se constrói com paciência e perseverança, o trabalho sobre nós mesmos deve ser constante para atingir a perfeição monástica e, então, a perfeição divina.
O que caracteriza São Bento, além de sua austeridade monástica, é o Sinal da Cruz, tendo feito diversas vezes e alastrando diversos mitos envolvendo tentativas de assassiná-lo e infortúnios do próprio Diabo, no qual o Santo se livrou fazendo o Sinal da Cruz, além de se manter sempre vigilante e diligente. Suas palavras de poder, em latim, compõe parte do ritual de exorcismo da Igreja Católica e a famosa Cruz de São Bento, cunhada em suas medalhas.
Em 1647 em Nattremberg, na Baviera, foi encontrado a Cruz de São Bento entalhadas nas paredes da abadia de São Miguel em Metten, após umas bruxas condenadas supostamente confessarem não conseguir realizar feitiçarias onde esteja tal cruz. Sua fórmula de exorcismo (CSSML...), contudo, é bem anterior, tendo sido encontrado em manuscristos do século XV, associados a São Bento.

A Medalha

A medalha como é conhecida hoje (escrito PAX no topo) foi cunhada em 1880, homenageando o 14° centenário do nascimento de Bento. Contudo, a medalha com a cruz já estava em pleno uso já no século XVII e há registros dela ainda em séculos anteriores. A Cruz de São Bento, presente na medalha, começa com as iniciais CS acima e PB embaixo, significando "Crux Sancti Patris Benedicti" (Cruz Santa do Padre Bento).

A seguir, vem as inscrições da cruz:
CSSML: "Crux Sacra Sit Mihi Lux" (A Cruz Sagrada seja minha Luz)
NDSMD: "Non Draco Sit Mihi Dux" (Não seja o dragão meu guia)

A seguir, vem as inscrições que circulam a cruz:
VRS: "Vade retro, satana!" (Retira-te, Satanás!)
NSMV: "Nunquam Suade Mihi Vana" (Nunca me aconselhes tuas vaidades)
SMQL: "Sunt Mala Quae Libas" (É má a bebida que me ofereces)
IVB: "Ipse Venena Bibas" (Bebe tu mesmo o teu veneno)

No verso da medalha pode ser visto a imagem de São Bento com seus símbolos conhecidos: A cruz na mão direita, sinal no qual ele muito fez uso e realizou maravilhas; o livro da sua regra na mão esquerda, representando seu caminho de rigor e obediência. O cálice representa o cálice de vinho envenenado que para ele ofereceram, mas bastou o santo fazer o sinal da cruz que o cálice partiu. O corvo representa o corvo que levou o pão envenenado das mãos do santo antes que ele pudesse comê-lo.
Circundando a medalha, pode ser lido "Eius in obitu nostro praesentia muniamur" (Sejamos protegidos pela sua presença na hora de nossa morte).

A Cruz de São Bento como ritual de banimento

A fórmula presente na medalha pode servir como um sinal da cruz próprio, fazendo o sinal da cruz conforme as evocações da medalha e banindo as más influências nos quatro cantos à sua volta:

Com os dedos indicador, médio e polegar da mão direita estendidos e unidos, tocar a testa e dizer: "Crux Sacra"
A seguir, tocar a base do abdômen e dizer: "Sit mihi lux"
Depois, tocar o ombro direito e dizer: "Non Draco"
E então tocar o ombro esquerdo e dizer: "Sit mihi dux"

Depois deve-se virar para a direita, fazer o sinal da cruz no ar a sua frente e dizer: "Vade retro, satana!"
A seguir, virar novamente em sentido horário e dizer enquanto traça a cruz no ar: "Nunquam Suade Mihi Vana"
A seguir, o mesmo processo e dizer: "Sunt Mala Quae Libas"
Em seguida, o mesmo processo, desta vez retornando à posição de origem, e dizer: "Ipse Venena Bibas"
Termina-se colocando ambas as mãos sobre o coração

A seguir, na posição original, refazer a cruz sobre si, mas desta vez dizendo:
Da testa à barriga: "In nomine Patris"
Ombro direito: "et Filii "
Ombro esquerdo: "et Spiritus Sancti"
Dizer "Amen" enquanto coloca ambas as mãos sobre o coração. Concomitantemente, visualiza-se o manto negro dos beneditinos envolvendo o seu corpo, te protegendo de todo o mal.

Virgem Maria e a Lua

A Lua é o símbolo universal do feminino, simbolizando a fertilidade, a maternidade, a pureza, a intuição, os sonhos e o acolhimento. A Lua também é associada às águas, já que controla as marés em nosso planeta. O ciclo lunar se relaciona com o ciclo menstrual feminino.

Maria é simbolizada pela Lua, não apenas por tê-la a seus pés, mas também pela sua atribuição, pela sua maternidade, sua misericórdia, seu abraço acolhedor, suas cores simbólicas e por ser a mãe do redentor, a Mãe do Logos, cuja glória é associado ao Sol. Do mesmo modo a Lua reflete a luz solar.
Não se trata de uma comparação meramente pagã, mas sim uma alegoria que podemos fazer para melhor compreender os mistérios divinos. O Divino nos é incompreensível por si só, por isso usamos constantemente metáforas, alegorias, parábolas e todo tipo de linguagem simbólica para que nossa mente, limitada ao mundo terreno, possa compreender e adentrar esses mistérios

A Lua é o astro mais próximo à terra, no qual fica entre a Terra e o resto do universo. Na Cabala, a esfera de Yesod (a Lua) fica logo acima de Malkuth (a Terra, o mundo tangível) e abaixo de Tiferet (o Sol, o Verbo Divino), compreendendo Yesod como o véu místico entre os mundos, a porta de entrada para Cristo. Em outras palavras, a Lua está mais próxima da Terra (ou seja, de nós) do que o Sol, mas a luz que a Lua emite é reflexo da luz solar.
Nestas lógicas, sua atribuição de Mediadora faz todo o sentido, até mesmo entre as igrejas que não aceitam este título para Maria mas ainda sim a veneram como acima de todos os santos.

À Maria é concedida o título de Turris Eburnea (Torre de Marfim). Uma torre é uma edificação vertical que vai da terra, onde entramos, até o mais elevado. É um conceito semelhante à sua atuação como Yesod, ligando a Terra ao céu. Marfim é um material cor de lua, liso e sem manchas, representando a pureza, uma torre de extrema pureza que nos eleva da Terra aos céus, cuja castidade é necessária para nos afastarmos dos desejos deste mundo e nos voltarmos a Cristo.
Torre de Marfim se refere, metaforicamente, a um estado de isolamento filosófico, de interiorização e contemplação, um estado de autoaperfeiçoamento onde o adepto solitário se fecha ao mundo profano e ingressa nos mais altos mistérios. Simplificando, Torre de Marfim é um lugar acolhedor um refúgio para quem busca o mais elevado, a porta de entrada para a Verdade. A Virgem Maria é a porta de entrada para Cristo, é o abrigo que os grandes mestres buscaram para chegar até Deus.

Nos templos ortodoxos é comum ver a lua deitada sob a cruz. Esta simbologia remete ao livro do Apocalipse (c. 12), no qual aparece uma "mulher vestida de sol" e "a lua aos seus pés", o que muitos associaram à própria Virgem Maria grávida de Jesus. Outra interpretação seria que a cruz, obviamente, simboliza Cristo enquanto a Lua simboliza Maria. A Lua está sob a cruz não como sinal de inferioridade, mas sim sendo o seu suporte, sua base, seu fundamento, assim como Maria, que foi mãe de Jesus em todas as suas qualidades maternais, dando-lhe suporte, base e fundamento.

Maria tem três facetas, assim como a Lua. Maria, em sua Imaculada Conceição, é comparável à lua crescente, de aspecto puro e virginal. Maria, como a Mãe de Deus, Theotokos, é comparável à lua cheia, a perfeição lunar, plena da luz solar, associada à maternidade. Maria , como cônjuge do Espírito Santo, é comparável à lua minguante, simbolizando a sabedoria do fim, a graça da última pessoa da Trindade, se revelando no Pentecostes.
E quanto à lua nova? Podemos relacionar à lua escura à Mater Dolorosa, Nossa Senhora das Dores e todos os seus mistérios, que, embora seu culto tenha se iniciado no século XIII, sua devoção é bem anterior, baseado ainda na profecia de Simeão e em vários momentos dos evangelhos. Neste aspecto, Maria se encontra de luto pela morte de seu filho, acolhendo o seu corpo. Geralmente é representada em prantos e com sete espadas perfurando o seu coração, simbolizando suas Sete Dores. Representa a introspecção necessária para um novo começo.
A lua nova em Maria remete não apenas num único aspecto, mas de todas as suas Sete Dores, de todos os momentos de aflição que ela passou com seu Filho. Mesmo assim Maria não desistiu e continuou sua senda, assim como a Lua perfaz mais um ciclo.
O momento de luto de nossa Mãe, retratado em sua imagem, não a fez desistir e nem perdeu o seu brilho, mas serviu para que ela meditasse em seu interior e retornasse ainda mais fortalecida. Maria não desistiu, mas seguiu com os apóstolos na missão que o seu Santo Filho os designou. Assim, depois de seu "momento de escuridão", Nossa Senhora passou por mais um ciclo na resistência com os apóstolos até ser ascensionada e coroada, de acordo com a tradição romana.

Como podemos ver, não se trata de um simbolismo vazio, mas repleto de valores para a prática cristã. Maria, como a serva perfeita no qual todo cristão deve ser, adorou a Deus (Pai), acolheu Deus (Filho) em seu interior e viveu uma relação especial com Deus (Espírito Santo). Ela viveu uma vida de pureza e longe do pecado. Ela revelou Deus ao mundo e teve forças para continuar depois de várias Dores.
Buscamos em Maria, o sagrado feminino, o puríssimo receptáculo no qual Deus se adentrou. Maria é concha que protege a pérola, o véu que oculta a verdade, o templo onde se assenta a Divindade. Buscamos também o acolhimento, a misericórdia, a doçura e todas as qualidades maternas que precisamos em nossa vida cheia de prantos.

Como rezar a Oração do Coração?

"Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim pecador"

Desde os monges do deserto até hoje entre os cristãos ortodoxos se pratica a Oração do Coração, um mantra de muito poder que vivifica a Via Cardíaca. É recitado principalmente na reza do Komboskini (ou Chotki), um cordão de orações com vários nós usado na ortodoxia. O seu uso com o komboskini foi criado para substituir a leitura dos salmos pelos monges analfabetos do Egito e também como um recurso para a meditação. Com o passar dos séculos, seu uso foi preservado e aprimorado pela tradição hesicasta. Sua prática é importante para alcançar a Theosis.
Theosis é um processo de divinização em que o fiel passa ao manter-se vigilante às disciplinas e práticas espirituais, trata-se de um estado de verdadeira contemplação e paz interior. A meditação com a Oração do Coração é uma das mais importantes práticas do misticismo cristão que nos leva a este estado, fazendo arder o Verbo Divino latente em nosso coração.
A Oração do Coração é o cerne da vida hesicasta, pois está vinculado às palavras de Paulo de orar incessantemente.

A meditação com o komboskini é uma prática individual, não havendo rezas em grupo, como no terço católico. Diferente do terço, no komboskini não é aconselhado fazer pedidos ou direcioná-lo a algum santo, mas simplesmente entregar-se para a graça divina, escutar o Cristo em seu interior.
A Oração do Coração (Kyrie Eleison) deve ser entoado ou mentalizado ao passar por todos os nós do komboskini. Os nós costumam ser divididos em conjuntos, e para cada divisória se faz uma reverência à Mãe Celestial. É tradição meditar perante um ícone de Jesus ou da Theotokos (Mãe de Deus), a fim de melhor visualizar e direcionar as preces.

A Oração

Para dar início à oração é preciso fazer o sinal da cruz. Aliás, para toda oração e prática deve-se fazer o sinal da cruz no início e no fim.

Depois, segurando a cruz, deve-se dizer três vezes: "Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tem piedade de nós."
Depois, dizer: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo agora e sempre por todos os séculos dos séculos, amém."

A seguir vem os nós e os separadores...
Para cada nó: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim pecador."
Para cada separador: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo por todos os séculos dos séculos." e/ou "Santa Mãe de Deus, intercede por mim."

A meditação não precisa se limitar à quantidade de nós do komboskini. Se o komboskini tem 100 nós e o orante se sentir tocado em orar mais, pode dar mais uma volta e perfazer 200 orações.

Esta prática deve proporcionar mudanças em quem pratica, não deve ser repetido a oração de forma mecânica, mas sim absorvê-la em seu coração. Alguns mestres hesicastas do Monte Athos recomendavam que se recitasse (mentalmente) a oração concomitante com sua respiração: deve-se inspirar enquanto recita "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus" e deve-se expirar ao recitar "tende piedade de mim, pecador".

O Cordão de Orações

Tradicionalmente, o komboskini é feito de lã preta e possui uma cruz na extremidade com o mesmo material, terminando com uma franja. Os nós são feitos de modo com que se assemelhem com pequenas cruzes. Contudo não é um amuleto, mas sim apenas um instrumento de meditação. É tradição ter 100 nós, mas também é comum ter 300, 72, 50 ou 33 nós.

Se na sua cidade não tem uma igreja ortodoxa que proporcione o komboskini, não é preciso esperá-lo cair do céu para começar a praticar. Podemos fazer nós mesmos um cordão de orações simples com 33 nós para realizar a Oração do Coração:
Use miçangas, sementes, ou nós mesmo, de modo que haja três conjuntos de 11 contas cada. Entre cada conjunto, coloque uma miçanga maior ou semente isolada como separador. Não se esqueça de colocar uma cruz para marcar o início e o fim das orações.

Como rezar o Santo Rosário?

O Rosário é um instrumento de meditação e devoção à Virgem Maria. Chamamos de Terço a terça parte do Rosário. O Rosário da forma que conhecemos hoje passou por inúmeras modificações, tendo sido inspirado na prática hesicasta dos padres do deserto, adaptado para substituir a Liturgia das Horas para os leigos e sofisticado com a ritualística que se tem hoje. Não vamos nos focar nas explicações fantásticas de sua criação, mas sim em sua aplicabilidade.
O rosário é dedicado especificamente à Virgem Maria, sendo relembrado em muitas de suas aparições, por isso possui 20 mistérios (15 inicialmente), ou seja, memórias de Maria e de seu filho, Jesus. Cada mistério é dividido em 4 conjuntos: Mistérios Gozosos, Luminosos e Dolorosos e Gloriosos. Os Mistérios Luminosos foram incorporados pelo papa João Paulo II em 2002, pois antes só haviam três conjuntos de mistérios, por isso chamamos a recitação de cada conjunto de Terço.
O terço é, tradicionalmente, a terça parte do rosário. No terço se reza um conjunto de mistérios, e cada conjunto contém 5 mistérios onde se reza uma dezena de Ave Maria para cada mistério.
São listados dias da semana específicos para rezar cada mistério. No tempo de quaresma é aconselhado meditar nos Mistérios Dolorosos independente do dia da semana. De todo modo, é possível rezar o terço sem os mistérios, apenas rezando-o continuamente.

Mistérios Gosozos

Dia da Semana: Segunda-feira e sábado.
Virtude: Temperança.
Temática: Momentos de Maria com seu filho, Jesus, no qual guardava tudo em seu coração.
  1. A Anunciação do Arcanjo Gabriel (Lucas 1:26-38)
  2. A Visitação de Maria a sua prima Isabel (Lucas 1:39-56)
  3. A Natividade de Jesus (Lucas 2:1-20)
  4. A Apresentação de Jesus no Templo (Lucas 2:22-40)
  5. O Encontro de Jesus no Templo (Lucas 2:42-51) 

Mistérios Dolorosos

Dia da Semana: Terça-feira e sexta-feira.
Virtude: Justiça.
Temática: A Paixão de Cristo, o caminho de sua crucificação.
  1. A Agonia de Cristo no Jardim das Oliveiras (João 18:1-12)
  2. A Flagelação de Cristo (João 19:1)
  3. A Coroação com a Coroa de Espinhos (João 19:2-5)
  4. O Transporte da Cruz (João 19:16-18)
  5. A Crucificação (João 19:19-30)

Mistérios Gloriosos

Dia da Semana: Quarta-feira e domingo.
Virtude: Fortaleza.
Temática: Os acontecimentos gloriosos que ocorreram após a ressurreição de Cristo.
  1. A Resurreição de Cristo (Marcos 16:1-13)
  2. A Ascenção de Cristo (Marcos 16:14-20)
  3. A Descida do Espírito Santo (Atos 2:1-4)
  4. A Ascenção de Maria
  5. A Coroação de Maria

Mistérios Luminosos

Dia da Semana: Quinta-feira.
Virtude: Prudência.
Temática: O ministério de Jesus Cristo em sua passagem terrena.
  1. O Batismo de Jesus (Mateus 3:13-17)
  2. O Transformação da Água em Vinho (João 2:1-11)
  3. O Sermão da Montanha (Mateus capítulos 5, 6 e 7)
  4. A Transfiguração de Cristo (Mateus 17:1-9)
  5. A Instituição da Eucaristia (Mateus 26:26-30)